26 de jul. de 2017

Agora

Agora que a agora é nunca 
Agora posso recuar 
Agora sinto minha tumba 
Agora o peito a retumbar 
Agora a última resposta 
Agora quartos de hospitais 
Agora abrem uma porta 
Agora não se chora mais 
Agora a chuva evapora 
Agora ainda não choveu 
Agora tenho mais memória 
Agora tenho o que foi meu 
Agora passa a paisagem 
Agora não me desperdi 
Agora compro uma passagem 
Agora ainda estou daqui 
Agora sinto muita sede 
Agora já é madrugada 
Agora diante da parede 
Agora falta uma palavra 
Agora o vento no cabelo 
Agora toda minha roupa 
Agora volta pro novelo 
Agora a língua em minha boca 
Agora meu avô já vive 
Agora meu filho nasceu 
Agora o filho que não tive 
Agora a criança sou eu 
Agora sinto um gosto doce 
Agora vejo a cor azul 
Agora a mão de quem me trouxe 
Agora é só meu corpo nu 
Agora eu nasço lá de fora 
Agora minha mãe é o ar 
Agora eu vivo na barriga 
Agora eu brigo pra voltar 
Agora...